Manutenção da Selic renova preferência por ativos de renda fixa

A manutenção da taxa básica 10,50 e a preocupação do mercado com a política fiscal brasileira deram um novo respiro à renda fixa. “A taxa de juros real do Brasil está muito alta, então, para os investidores conservadores, vale a pena ficar em títulos públicos”, diz João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos. Ao mesmo tempo, ele fala sobre a oportunidade em títulos como debêntures incentivadas, CRIs, CRAs e ativos bancários: “com mais risco, o retorno até 30% maior do crédito privado no longo prazo vai fazer toda a diferença em relação aos títulos públicos”.

 

Renda fixa

Renda fixa pública

Os títulos públicos oferecem retornos gordos aos investidores hoje. Os ativos prefixados do Tesouro Direto pagam juro de até 12,22% ao ano, enquanto os atrelados à inflação entregam juro real de até 6,30% em prazos intermediários.

Diante disso, com a Selic ainda em 10,50%, especialistas recomendam a exposição aos três indexadores dos títulos públicos e cada um tem uma justificativa. O Tesouro Selic, que paga ao investidor a taxa Selic mais um pequeno prêmio, de até 0,15%, é considerado o investimento mais seguro do Brasil e ainda tem boa remuneração. “A manutenção da participação de títulos atrelados à Selic na carteira é interessante para efeito de proteção, a diversificação é ainda mais importante em períodos de elevada incerteza”, diz a Guide Investimentos, em relatório. 

Tesouro IPCA

A justificativa para investir nos títulos do Tesouro IPCA+ está na alta remuneração, proteção contra a inflação – preocupação do mercado para os próximos meses – e potencial de valorização dos papéis. Arley Junior, estrategista de Investimentos do Santander Brasil, explica que “incertezas vindas do exterior, em especial acerca da trajetória dos juros nos EUA, somadas à inflação doméstica acima do esperado e às dúvidas do lado fiscal, levaram os títulos do Tesouro Direto corrigidos pelo IPCA a pagarem taxas mais altas, acima da média histórica”. 

Nos prefixados, os especialistas enxergam prêmio diante da curva de juros. Ou seja, para os analistas, a Selic será menor do que o mercado precifica nos próximos anos, o que tornaria vantajoso travar a rentabilidade entre os 11,60% e 12,20% que o Tesouro oferece hoje. “Não acreditamos no cenário de aumento de taxa de juros, como a curva de juros precifica hoje, estamos focados nos ativos prefixados de curto prazo, mas sempre com cautela”, diz João Coutinho, economista e diretor da RJ+ Asset. 

Renda fixa privada

No crédito privado, ativos isentos de Imposto de Renda estão entre os preferidos dos especialistas, especialmente as debêntures incentivadas. Com a demanda alta e empresas indo bem, esses papéis passaram a pagar menos nos últimos meses. Os spread (prêmio adicional em relação aos títulos públicos) encolheram e chegaram a zero, mas Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy, projeta volta à normalidade nos títulos de empresas consideradas mais seguras: “algumas emissões vieram com taxas exageradamente baixas, acredito que esse tipo de papel, que chegou a ter spread zero, pague entre 0,30 e 0,50 ponto percentual a mais que o Tesouro IPCA+”. 

A recomendação é ficar nas empresas mais sólidas, com classificação de crédito AAA. Elas pagam menos do que companhias consideradas mais arriscadas, mas, considerando que a Selic deve ficar alta por um bom tempo, o custo da dívida pode ser pesado para algumas empresas.

O Santander enxerga oportunidade nas empresas AAA, que oferecem remuneração de quase 7% acima da inflação em papéis isentos de IR. “Temos observado boas oportunidades nesta classe. Nosso alerta, porém, é para não concentrar os investimentos. O investidor deve optar por ao menos cinco papéis, e a parcela alocada em crédito privado não deve ultrapassar de 10% a 15% da carteira, dependendo do perfil”, recomenda Junior.  

A Guide diz que uma retração maior da economia pode gerar dificuldades para empresas pagarem suas dívidas, “por isso, reiteramos a preferência por não se arriscar em títulos com classificação de crédito ruim”. 

Enquanto grande parte das debêntures incentivadas é atrelada ao IPCA+, o Santander também recomenda exposição a ativos com remuneração atrelada ao CDI, como CDBs, LCIs e LCAs. Para o banco, essa classe “segue atrativa e deve representar quase 80% do portfólio de um investidor conservador”, segundo o modelo da casa. Para quem já aceita tomar mais risco, o peso sugerido para esses papéis é de 30% da carteira.

 

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